Alguns casos envolvendo adolescente são muito “cabulosos”, como eles mesmos dizem. Casos que os próprios profissionais da área, as vezes, não acreditam em recuperação. É muito comum o agente social não saber o que fazer. Esse fato ocorre porque sempre temos à nossa disposição as mesmas soluções. É preciso buscar algo novo.
Durante a campanha, é muito comum as pessoas me perguntarem se é possível dar jeito nesses adolescentes. Sim, sempre há solução. Os adolescentes, após cumprirem a medida em meio fechado, saem da unidade de internação cheios de sonhos de mudança e estão convictos de que não querem voltar para as drogas e nem para o crime. Porém, a grande maioria reincide. Por quê?
Resposta simples: praticamente não existe um trabalho efetivo com os egressos. Eles sempre vão voltar para o mesmo contexto social que estavam antes de serem presos e, ao se depararem com a mesma condição, voltam às mesmas práticas antagônicas.
Estima-se que cada adolescente internado em educandários custa em média cinco mil reais mensais aos cofres públicos, ou seja, privá-los de liberdade custa caro. Porém, existe uma possibilidade que está sendo discutida ultimamente: a família acolhedora.
Uma família com um bom quarto e amor sobrando pode entrar nesse programa e mudar a vida do garoto com menos de um quinto do que o estado gasta com adolescente internado. Todos esses adolescentes precisam de escola, passeios, tarefas domésticas, festinhas de aniversário, participação em grupos de discussão, apoio, esporte, cultural e lazer. Educar um ser em desenvolvimento é superar os limites do individualismo e se doar quase que integralmente pela garantia do processo positivo.
Quando se trata de crianças e adolescentes oprimidos ainda é mais gratificante. Essa é a mágica de casos como o do garoto Roberto Carlos que virou filme: um ex-menido-de-rua que foi adotado por uma pesquisadora francesa e se transformou no contador de histórias mais conhecido do Brasil. Morou na França com a família de sua mãe adotiva que era dona de uma grande vinha. Nessas condições, qualquer um se recupera.
Inserir novamente o adolescente no seu local de origem, muitas vezes, significa inaugurar um novo ciclo que vai culminar em uma nova privação de liberdade. Por isso a importância de encaminhá-lo, primeiramente, para um programa em meio aberto como a família acolhedora.
O usuário de drogas deixa de se drogar apenas quando existe algo melhor para fazer. Certamente ele não trocaria uma tarde em uma deliciosa piscina por 5 pedras de cack. Todos escolhem a piscina. Todos trocariam a droga por um abraço de amor sincero.
As pessoas deixaram de se doar para a educação e começamos a viver em um individualismo. Se deixamos de ensinar, as crianças não aprendem certas coisas e precisam sofrer para descobrir certos saberes que a pouco tempo era ensinado pelos adultos.
Os egressos tanto de clinicas quanto de centro de medias sócioeducativas em meio fechado, precisam ter opção melhor do que droga e o crime, caso contrário, já sabemos o fim.
Faber Miquelin
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